terça-feira, 29 de março de 2016

Em 1945, rubro-negros e tricolores se unem no futebol e na política

Dupla BaVi unida antes de uma partida. No meio de Istalino e Joel, está o árbitro Mário Vianna.
 Diferentemente do atual momento vivido no futebol baiano, no qual presidentes da dupla BaVi trocam farpas no caso Victor Ramos, na década de 40, ambas as equipes juntaram-se contras as arbitrariedades da FBDT (Federação Bahiana de Desportos Terrestres). A coincidência de semi-rivais unindo-se em prol de algo se deu no mesmo ano, no campo da política, quando o ex-presidente do rival, Lô Costa Pinto apoiou Marighella em sua campanha para deputado federal.

 No primeiro caso, o ainda Sport Club Victória, sob a presidência do Dr. Luiz Lago de Araújo chegou a pedir o afastamento da Liga Bahiana de Desportos Terrestres. Isso porque em 1944, o então presidente da federação, Antonio Bendocchi suspendeu os presidentes do Vitória, Bahia, Galícia e Fluminense de Feira. Naquele ano, quem assumiu a presidência da FBDT foi Orlando Gomes, e foi sob sua tutela que a federação pouco se queixou do afastamento rubro-negro, demonstrando acatamento após dirigir uma nota ao presidente do Leão.

 Foi em 5 de Outubro, que os clubes se reuniram na sede do Bahia. Com apoio do clube que viria a ser o seu rival, do Galícia e também do Flu de Feira, o Vitória encontrou forças para prosseguir na competição e até teve um de seus atletas entre os artilheiros, Siri.

 No mesmo ano, porém, cerca de dois meses depois, viria a acontecer as eleições gerais. O Brasil em processo de redemocratização, pós-varguismo elegeria seus deputados, dentre eles o baiano Carlos Marighella, candidato pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro) na Bahia. Para a sua candidatura pelo partidão, Marighella teve o apoio de ninguém menos que Carlos Costa Pinto, conhecido também como Lô, que fora presidente do Bahia em 1937 e colega de curso de Marighella.

Em 1945, Marighella viria a ser eleito deputado federal pelo Partidão.

 Como conta a biografia "Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo" de Mário Magalhães: "Ex-presidente do Esporte Clube Bahia e filho de um colecionador de arte, Lô era sócio da construtora que acabara de erguer o Edifício Oceania em frente ao farol da Barra". Se o amigo era tricolor, o então candidato era rubro-negro e discursava em Salvador tanto em denúncia a mortalidade infantil da época, quanto em prol da construção de um estádio de futebol. Isso culminou na construção da Fonte Nova em 1951, na mesma rua onde ele havia nascido. A eleição aconteceu em dezembro e Marighella se elegeu com 5188 votos.

sábado, 12 de março de 2016

Naná Vasconcelos, entre a esquerda e o futebol

Homenagem do Santa Cruz pela passagem de Naná Vasconcelos aos 71 anos.

 Faleceu na última quarta-feira (9) no Recife o músico Naná Vasconcelos, vítima de uma parada respiratória. O pernambucano Juvenal de Holanda Vasconcelos está numa linha tênue entre a esquerda e o futebol. Apesar de não se declarar comunista e tampouco um torcedor fanático, o ex-percussionista tem suas músicas ligadas tanto ao esporte bretão quanto a política.

 Em 2006 Naná lançou o seu álbum "Trilhas", que continha a canção "Quase irmãos". A música fez parte do filme praticamente homônimo, chamado Quase Dois Irmãos. O longa de Lúcia Murat contava a história de Miguel e Jorginho, amigos de infância de classes sociais distintas. Miguel viria a ser preso político em plena ditadura militar e na prisão de Ilha Grande reecontraria Jorginho que estava na vida do crime. A película aborda a divergência de privilégios tidas pelos presos políticos e presos comuns, demonstrando uma face menos humanizada da esquerda brasileira. Já em outra época do filme, os dois voltam a se reencontrar. Jorginho novamente na prisão, sendo chefe do narcotráfico, e Miguel como deputado. A vida dos dois se entrelaçam ainda mais quando a filha do político se envolve com traficantes comandados por Jorginho. Dessa forma, o filme termina com a música feita por Naná sendo exibida ao mesmo momento em que aparece imagens de contrates social na cidade do Rio de Janeiro, como a aproximação de prédios arranha-céus com os morros.


 Por outro lado, Naná tinha também sua aproximação com o futebol. Como o próprio afirmou: "não sou fanático, mas adoro o futebol-arte, objetivo e claro". Dessa forma ainda se afirmou como um 'torcedor sofredor' do Santa Cruz. Uma de suas composições traz os seguintes versos: "Não deixe o futebol perder a dança/ Nem perca esse sorriso de criança...". Sobre a canção, o músico ressaltara: "Na música, o primeiro instrumento é a voz e o melhor instrumento é o corpo. No futebol, o primeiro instrumento é a bola e o melhor instrumento do corpo".

quinta-feira, 10 de março de 2016

Em Minas, escola de boxe é criada com o nome de Marighella

Logotipo da Escola de Boxe Marighella.


 Em setembro de 2015, um professor de educação física teve como iniciativa a criação de uma escola de boxe voluntária no interior de Minas Gerais. Na cidade de Itabirito, que está localizada há 57 km de Belo Horizonte, deu-se a criação da Escola de Boxe Marighella, projeto que acontece num bairro simples da jurisdição e visa atrair o público infanto-juvenil para participar de atividades de luta, como é o pugilismo.

 Sendo o projeto, algo de espontânea voluntariedade, a escola se mantém a partir de rifas que são feitas para a compra de materiais, necessários ao treino, e também de patrocínios de comerciantes da localidade. Conta o professor Alexandre Sérvulo que a academia leva o nome de Carlos Marighella porque o reconhece como um dos maiores heróis nacionais, que lutou pela justiça e contra a opressão do homem pelo homem.

- Apesar de não ter sido boxeador, Marighella foi um grande lutador pelos ideais de justiça e praticava e reconhecia a importância de atividades físicas. - conta o professor.

O professor do projeto, Alexandre Sérvulo entre as crianças. Acima um poster de Carlos Marighella.

 A escola tem como intuito também formar ótimos boxeadores e a consciência crítica dos que participam. Dessa forma, parte do treinamento é dedicado a filmes, discussões, frases e tudo mais que sirva para desenvolver a consciência da importância tanto da luta nos ringues, quanto da luta por um mundo mais justo.

- No final de cada treino fazemos saudação a Carlos Marighella. - completou Alexandre.

Marighella e o boxe

 Se o percursor da escola admira a disposição de Marighella, de forma recíproca o ex-guerrilheiro era admirador do boxe. Nos ringues, o baiano era fã de Éder Jofre, tido por alguns como o maior peso-galo da história. Certa feita, nos tempos da ditadura militar, Marighella chegava a largar as reuniões do PCB para assistir pela televisão as lutas do pugilista.

 Conhecido como "Galinho de Ouro", Éder Jofre era sobrinho de Waldemar Zumbano, que por sua vez, era camarada de Marighella. Como conta a biografia "Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo", escrita por Mário Magalhães, Zumbano por volta de 1930: "...era um boxeur que devido á perseguição policial vivia peregrinando pelo interior a desafiar fortões. Como sua identificação lhe custaria a liberdade, ele adotara o nome de Frank Éder, que uma irmã eternizou, em 1936, ao batizar o filho como Éder. O menino Éder Jofre se transformaria no maior lutador do boxe brasileiro, conquistaria os cinturões mundiais dos pesos galo e pena e teria como fã o capoerista Marighella.". 

E.C. Vitória e o boxe:

 Apesar de não ser um clube com atletas voltados para o boxe, o Vitória possui atletas no taekwondo, no judô, jiu-jitsu e no MMA. Por sua vez, o baiano Acelino "Popó" Freitas, um dos maiores nome do pugilismo no Brasil é torcedor nato do Leão da Barra, tendo sido um dos integrantes da principal organizada do clube, a Torcida Uniformizada Os Imbatíveis.

Popó entre os membros da Torcida Uniformiza Os Imbatíveis.